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“Os Dois Lobos” – A Perspetiva Científica

 

Existe um velho ditado índio Cherokee, que é conhecido como “Os dois lobos”.

Reza a história, que um velho índio Cherokee estava a ensinar o seu neto sobre a vida, e disse-lhe o seguinte:

“Está a acontecer uma luta dentro de mim. É uma luta terrível entre dois lobos. Um lobo é mau. Ele é a raiva, a inveja, o arrependimento, a arrogância, o ressentimento, a inferioridade, a superioridade e o ego. O outro lobo é bom. Ele é a alegria, a paz, o amor, a esperança, a serenidade, a humildade, a gentileza, a benevolência, a empatia, a generosidade, a verdade, a compaixão e a fé.”

O neto ficou a pensar no que o avô disse por uns instantes e depois perguntou: “E qual dos lobos é que vence?”

E o avô respondeu: “Aquele que alimentares mais.”

 

Este velho ditado, é um dos ditados mais poderosos e verdadeiros que existe. A antiga sabedoria índia com centenas de anos, vai de encontro ao que a neurociência só descobriu muito recentemente. Realmente, o lobo que mais alimentarmos, é o que se torna mais forte e o que ganha a luta. E esta luta, é uma luta que acontece a todos os minutos, e no fim do dia, várias batalhas são perdidas e vencidas, sem nos apercebermos.

 

Cada um de nós, quando nasce, traz consigo um lobo mais forte do que o outro. E quase sempre o lobo mais forte é o lobo mau, porque é o que nos foi herdado biologicamente, desde do tempo dos nossos antepassados caçadores-recolectores, que vivam cercados de animais ferozes e que instintivamente tinham que atacar ou fugir. O seu lobo mais forte tinha que ser o lobo mau, para permitir fugir caso aparecesse um predador maior, ou atacar caso aparecesse uma presa mais pequena. Não havia espaço para alimentar muito o lobo bom, o lobo da alegria, da paz e do amor, pois isso significava não sobreviver.

 

A genética influencia qual dos lobos é que nasce mais forte, mas não determina qual deles irá continuar mais forte. Até há bem pouco tempo, pensava-se que o lobo que fosse maior é o que iria ganhar até ao resto da nossa vida. Que não conseguíamos mudar quem éramos, a nossa personalidade, a nossa forma de estar e de abordar a vida e que o nosso nível de felicidade se mantinha sempre o mesmo. A ciência dizia que nascíamos já com o nosso destino emocional marcado, para o resto da nossa vida.

 

Mas felizmente, nas últimas duas décadas, vários estudos científicos já desacreditaram essa teoria. Agora está mais do que comprovado que podemos alimentar mais um lobo e torná-lo mais forte do que o outro e mudar o destino destas lutas, mudar de vencedor. Mas estes estudos científicos apenas validam o que já era dito há centenas de anos em várias culturas, tal como vemos por este ditado índio.

 

O Dr. Richard Davidson, da Universidade de Wisconsin nos Estados Unidos da América, conseguiu medir a felicidade de uma pessoa a partir da observação da atividade elétrica em diferentes partes do cérebro de participantes. Os seus estudos, demonstram que as pessoas que estão emocionalmente perturbadas, zangadas, ansiosas, ou deprimidas, têm maior atividade no córtex pré-frontal direito, enquanto que as pessoas que demonstram mais felicidade, entusiasmo e energia, têm maior atividade no córtex pré-frontal esquerdo.

 

Podemos, portanto, assumir que o lobo mau encontra-se no córtex pré-frontal direito e que o lobo bom encontra-se no córtex pré-frontal esquerdo. Além desta grande descoberta, comprovou ainda que o nosso cérebro grava a nossa preferência de estados. Então se continuarmos a dar mais atividade ao lado esquerdo, vamos-nos sentir cada vez mais felizes e se dermos mais atividade ao lado direito, vamos-nos sentir cada vez mais infelizes.

Tal como o provérbio índio demonstra, o lobo que mais alimentarmos é o que vai ganhar mais lutas. Temos, portanto, que viver o nosso dia-a-dia a tentar alimentar o lobo bom. E como é que podemos fazer isso? Podemos começar a olhar para a nossa vida através de uma perspetiva mais positiva, gerir as nossas emoções, meditar, relaxar, fazer exercício físico, alimentar-nos corretamente, rodear-nos de pessoas positivas, sair com os nossos amigos, passar tempo com a família, ler artigos e livros que nos inspirem, entre outras atividades. Tudo isto contribuirá para aumentar a atividade no nosso córtex pré-frontal esquerdo, alimentando, portanto, o nosso lobo bom. E cada vez que fizermos isto, mais lutas ele conseguirá ganhar e quantas mais lutas ele ganhar, mais forte se torna. Criamos um efeito bola de neve positivo.

 

Enquanto estás a ler este artigo, estás a alimentar o teu lobo bom. Agora é só continuares!

 

 

 (Artigo escrito por Paulo Moreira na Revista Zen Family, edição de Dezembro de 2016. Link para download da revista: https://issuu.com/soniaribeiro2/docs/12___revista_zen_family_dezembro_20)

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