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Reclamar: O Impacto Negativo em Nós e nos Outros

Reclamar.

Parece que cada vez é mais comum vermos pessoas a reclamarem à nossa volta. Reclamar do tempo, do trabalho, das relações, de cada notícia que sai. Mas qual a vantagem disto? Porque é que se vê tantas pessoas a reclamar tanto? Se perguntarmos a algumas pessoas porque é que reclamam tanto, a resposta que tende a ser mais comum é que devemos ter uma voz ativa naquilo que está mal na sociedade e devemos verbalizar o que não gostamos. Mas até que ponto é que isso nos ajuda ou ajuda os outros? Vamos então ver.

Começando por nós, cada vez que estamos a reclamar mais intensamente, entramos em stress. Ficamos mais incomodados, irritados e o nosso corpo começa a ter reações fisiológicas. Sentimos-nos mais quentes, o ritmo cardíaco acelera, a respiração fica mais ofegante e os nossos pensamentos cada vez mais acusatórios. E isso tem algum impacto na nossa saúde?

Robert Sapolsky, é um dos neuroendocrinologistas mais conhecidos do mundo, trabalhando como investigador na Universidade de Stanford. Sapolsky tem feito vários estudos sobre o impacto do stress na nossa saúde e descobriu que o stress tem vários efeitos negativos no nosso cérebro, nomeadamente no nosso hipocampo 1,  que é uma região associada à memória a longo prazo e muito importante na nossa regulação emocional. Se experienciarmos stress contínuo, começa a existir morte neuronal no hipocampo, impactando o nosso cérebro e a nossa saúde. Se tivermos em conta que a reclamação crónica pode aumentar o nosso stress, percebemos o impacto negativo que esta forma de estar na vida nos traz.

Além do impacto negativo em nós, a reclamação também tem um impacto negativo nos outros. Existe um conceito que é o “contágio emocional”, que indica que as nossas emoções e comportamentos influenciam as emoções e comportamentos dos outros. Então, quando temos tendência a reclamar, estamos a influenciar os outros nesse sentido, levando a que os mesmos também possam experienciar mais emoções desagradáveis e stress, impactando também a sua saúde.

Isto significa que devemos estar sempre calados e nunca reclamar? Claro que não. Existem, genericamente, 3 tipos de reclamações que as pessoas tendem a adotar, sendo que quando quisermos reclamar, o mais saudável é adotar o 3º tipo, que indicamos em baixo:

 3 tipos de reclamações:

  1. Aqueles que reclamam cronicamente, diariamente, constantemente. Esta reclamação constante cria padrões neurológicos, que reforçamos, tornando-nos reclamadores crónicos. Isto tira-nos o controlo sobre os eventos da nossa vida, impactando negativamente a nossa saúde e de quem está à nossa volta.
  2. Aqueles que reclamam em situações para mostrar o seu ponto de vista sobre um assunto. No entanto, regra geral, estas pessoas não querem receber conselhos ou soluções. Querem apenas descarregar. Só que quando descarregamos algo em alguém, a outra pessoa passa a carregar isso.
  3. Os que reclamam de forma construtiva. Embora possa ser utilizada outra abordagem, esta é de todas as reclamações, a única que realmente pode trazer algum benefício. Queixarmos-nos que está quente, não ajuda em nada. Mas queixarmos-nos sobre uma situação que não está bem no trabalho ou em casa, de forma a expressamos a nossa insatisfação e com isso procurarmos uma solução, já se torna uma reclamação mais produtiva. No entanto, este é o modo de reclamação menos utilizado.

Da próxima vez que te apetecer reclamar, pensa se é realmente necessário. E se for, tenta adotar a forma construtiva.

 

1. Sapolsky, R. M. (1996). Stress, Glucocorticoids and Damage to the Nervous System: The Current State of Confusion. Department of Biological Sciences, 1 (1), 1-19. Doi:10.3109/10253899609001092

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