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O que fazer quando Procrastinamos? Criticamo-nos ou Perdoamo-nos?

Quando temos algo para fazer e não o fazemos, é comum as pessoas pensarem que o melhor é criticarmos o nosso comportamento, dar uma reprimenda em nós próprios para a próxima vez fazermos mais.

Kelly McGonigal é uma psicóloga que leciona um curso sobre a ciência da força de vontade na Universidade de Stanford. Ela diz que quando menciona que devemos perdoarmo-nos quando falhamos ou não fazemos algo, os alunos costumam contra-argumentar, dizendo coisas como: “Se não for duro comigo próprio, nunca irei fazer nada”, “Se me perdoar, vou faltar a não fazer.”, “O meu problema é que eu não sou duro o suficiente comigo”.

Para muitas pessoas, perdoarmos-nos parece uma desculpa que só vai levar a que cada vez façamos menos. McGonigal diz que os seus alunos dizem que temos que ter uma voz autoritária na nossa cabeça a controlar os nossos instintos, apetites, impulsos e fraquezas. E têm medo que se desistirem desta voz autoritária, perderem todo o autocontrolo.

A maioria de nós acredita nisso, pelo menos até um certo ponto, pois muitos fomos ensinados assim pelos nossos pais, através de comandos e de punições. Para as crianças, é preciso existir algum controlo porque o seu cérebro ainda não está completamente desenvolvido. A última parte a desenvolver-se é o córtex pré-frontal, que ajuda a regular as emoções e os impulsos e só acaba de formar-se por volta dos 25 anos de idade. Mas quando somos adultos, muitas pessoas ainda se tratam como crianças e adolescentes. Quando falhamos, somos capazes de dizer a nós próprios que somos preguiçosos, que assim não chegamos a lado nenhum. Cada falhanço é utilizado como prova que devemos ser ainda mais duros connosco próprios.

No entanto, o que os estudos têm vindo a mostrar é que a autocrítica está associada constantemente a menor motivação e a um pior autocontrolo e resiliência. Adicionalmente, é um dos maiores indicadores de depressão. Em contraste, a autocompaixão – sermos gentis e apoiarmo-nos, especialmente em situações de stresse e falhanço – está associado a uma maior motivação e a um maior autocontrolo e resiliência.

Foi feito um estudo na Universidade de Carleton, no Canadá, que monitorizou estudantes procrastinadores durante um semestre. A maioria dos estudantes adia os estudos para o primeiro exame, mas nem todos os estudantes fazem um hábito disso. Os estudantes que eram mais duros com eles próprios por procrastinar no seu primeiro exame, tinham mais probabilidade de procrastinar nos exames seguintes do que os estudantes que se perdoavam. Quanto mais duros eram com eles próprios no primeiro exame, mais tempo eles procrastinavam para o próximo exame. No entanto, perdoarem-se ajudavam-nos a voltar aos eixos.

Embora pareça contraintuitivo, alguns investigadores explicam o que pode estar por detrás disto. Quando temos uma abordagem de compaixão sobre um falhanço pessoal, faz com que tenhamos mais probabilidade de assumir responsabilidade pelo falhanço do que se formos críticos. Também ficamos mais dispostos a receber feedback e conselhos de outros e aumenta a probabilidade de aprendermos algo sobre a experiência. Uma razão que perdoarmos-nos ajuda-nos a recuperar dos erros, é que retira a vergonha e dor de pensar sobre o que aconteceu. Como não temos tanta dor sobre o que aconteceu, podemos refletir mais sobre a experiência e aprender com ela. Por outro lado, se formos críticos e sentirmos culpa, queremos escapar da situação e não pensarmos tanto sobre o que aconteceu, não retirando reais lições. Adicionalmente, se virmos os nossos falhanços como uma prova que somos uns perdedores e que estragamos tudo, começamos cada vez menos a gostar de nós, sentimos-nos piores, não queremos pensar tanto naquilo e tentar novamente.

Então, embora perdoarmos-nos pelo nosso falhanço possa parecer contra-intuitivo, traz mais resultados do que a autocrítica. Agora, tal como em tudo na vida, devemos utilizar as estratégias de forma eficaz. Neste caso, mostrar compaixão e perdoarmos-nos, deverá servir para analisar a situação e tentar melhor da próxima. Não apenas para apaziguar um sentimento negativo e não fazer nada em relação a isso, voltando a procrastinar.

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