Ninguém gosta de experienciar emoções negativas. Pensamos que as emoções negativas são emoções “más”, que deviam ser exterminadas. A tristeza, a raiva, o nojo e outras semelhantes, fazem-nos sentir mal. O nosso corpo reflete isso e a nossa mente também. Mas não existem boas ou más emoções, o que existem são emoções negativas ou positivas. E mesmo as negativas servem um propósito e podem ser construtivas.
No entanto, como não queremos experienciar essas emoções e muitas vezes não queremos expressá-las, temos por hábito utilizar uma forma de autocontrolo que pensamos que é a mais acertada: suprimir as emoções.
A supressão emocional pode ser benéfica em situações em que pode ser inapropriado exprimirmos aquilo que realmente sentimos. Suprimir emoções e os nossos comportamentos em algumas situações, pode ajudar-nos em algumas resoluções de problemas, em atingir objetivos ou mesmo em desconstruir um possível confronto. Em certas situações, não suprimir emoções, pode agravar ainda mais o resultado.
No entanto, a supressão emocional apenas deve ser utilizada em situações pontuais, em que o nosso comportamento pode afetar ainda mais a situação. Tirando essas situações, suprimir emoções de forma habitual pode trazer uma série de problemas.
Alguns estudos mostram que as pessoas que utilizam a supressão emocional habitualmente, reportam sentir maiores níveis de emoções negativas, menor satisfação com a vida e menos satisfeitas com os seus relacionamentos. Ao suprimirmos emoções, estamos a evitar expressar aquilo que nos aflige, limitando a nossa comunicação. E a falta de comunicação faz com que as situações não fiquem resolvidas, prejudicando os relacionamentos. Adicionalmente, embora o intuito da supressão emocional seja de reduzir a excitação emocional, o que tende a fazer é o oposto, aumentando a resposta do sistema nervoso simpático, colocando o nosso corpo mais tenso e excitado e aumentando a ativação na amígdala e noutras regiões responsáveis pela ativação das emoções.
A longo prazo, suprimir emoções traz consequências desastrosas para o nosso organismo, afetando o nosso sistema imunitário, ficando mais propensos a contrair uma série de problemas de saúde. Nas últimas décadas, tem-se estudado mais o impacto da supressão das emoções na nossa saúde e vários estudos apontam para uma associação entre a inibição da raiva e hostilidade e a hipertensão e a doença cardíaca coronária. (Appel, Holroyd, & Gorkin, 1983)
Habitualmente esta técnica é mais utilizada pelos homens, pois em muitas culturas, o homem não é educado desde cedo a partilhar os seus sentimentos, optando por suprimir os mesmos. “Homem que é homem não chora”, “O homem tem que ser sempre forte”, “Tens que aguentar e não podes chorar, se não mostras que és fraco”, são algumas frases típicas que ainda em crianças, os indivíduos do sexo masculino vão ouvindo. Então, quando estão perante uma emoção negativa, utilizam a técnica que lhes foi ensinada: suprimir.
Um exemplo normal é nas discussões. A mulher tende a expressar mais as suas emoções e sentimentos e o homem perante uma situação emocional, tem mais tendência em utilizar o stonewalling, que significa “muro de pedra”. Este nome dá-se pelo facto que o homem fica quieto e calado, não falando sobre a situação, quase como se levantasse um muro de pedra. Esta forma de proteção é prejudicial para a relação, pois aumenta a irritabilidade do parceiro e faz com que não haja comunicação, não sendo possível tentar resolver o problema. Além de prejudicar a comunicação, esta forma de defesa é uma supressão emocional, impactando a saúde de quem o pratica.
Então, devemos utilizar a supressão emocional apenas em situações que não é adequado expressar o que queremos e que devemos controlar mais os nossos comportamentos. No entanto, não é algo a ser utilizado habitualmente, ou trará consequências negativas para as nossas relações e para a nossa saúde.
Appel, M. A., Holroyd, K. A., & Gorkin, L. (1983). Anger and the etiology and progression of physical disease. In L. Temoshok, C. van Dyke, & L. Zegans (Eds.), Emotions in health and illness: Theoretical and research foundations (pp. 73-87). New York: Grune & Stratton.