Ao longo dos últimos anos, a investigação mostrou que a origem da maior parte do nosso stress está no próprio cérebro. Dada a agitação da vida diária, o cérebro pode facilmente promover as ligações que favorecem o stress – amplificar o stress real nas nossas vidas e produzir uma sensação de perigo iminente mesmo quando este não existe.
Sempre que o stress do dia se sobrepõe à nossa capacidade de o processar eficazmente, há um preço a pagar.
O preço é um aumento da carga alostática, o desgaste do corpo e do cérebro devido aos episódios de stress. Essa carga de stress é cumulativa, pelo que um certo nível de momentos de stress pode transformar um cérebro normal num cérebro em stress permanente, sempre a produzir cascatas de hormonas.
O cérebro vai-se tornando mais sensível ao stress e com o tempo começa a desgastar as próprias estruturas e processos que foram concebidos para os proteger. Depois torna-se um íman de sintomas, tensão arterial alta, problemas nas costas aumento de peso, infeções, ansiedade, etc, e a cada novo sintoma, aumenta a carga de stress A pesquisa mais recente aponta para a natureza da resposta de stress: aquilo que sente no momento não é só o stress desse momento, mas também uma acumulação dos efeitos do stress ao longo do tempo. O stress é um tema que tem vindo a ser estudado ao longo das últimas décadas.
Hans Selye, considerado o “Pai do Stress” considerava que um evento negativo, gerava automaticamente a reação de stress. No entanto, este modelo apresentava uma grande limitação, que era a ausência do papel dos fatores psicológicos. Lazarus e Folkman, outros dois nomes fortes na área do stress, indicaram que a forma como lidamos com um evento negativo, é o resultado entre o julgamento sobre o que está em causa e a percepção das nossas opções para lidar com o evento. Estes autores desenvolveram teorias fundamentadas em processos cognitivos, mostrando que é o significado que damos aos acontecimentos e a avaliação que fazemos aos mesmos, que os transforma num evento de stress. Alguns autores têm vindo a verificar que ao longo do nosso ciclo de vida, vamos mudando as estratégias (coping) adaptativas, para lidar com os eventos negativos e existem estratégias que podemos aprender com indivíduos que estão noutras faixas etárias.
Para entendermos melhor como é que podemos lidar com um evento de stress ao longo da nossa vida, vamos ver como um jovem adulto, um adulto de meia-idade e um idoso tipicamente lidam.
Começando pelos jovens adultos, é interessante ver que embora ainda não tenham experienciado tantas perdas e tantos conflitos como os adultos de meia-idade e os idosos, são os que reportam experienciar mais stress. Tipicamente, perante um conflito, os jovens adultos tendem a focar-se mais na regulação emocional para lidar com o stress sentido (Arnett, 2001). Embora também direcionem comportamentos para a resolução do objetivo, não são tão diretos como os adultos de meia idade. Em vez de utilizar a regulação emocional, os adultos de meia idade tendem a utilizar mais estratégias focadas no problema.
Então, perante um evento negativo, é mais comum que um adulto nesta idade, tente abordar diretamente a pessoa ou situação, tentando comunicar de forma mais objetiva de forma a resolver a situação. É despendida muito mais energia a tentar eliminar os eventos negativos que surjam, em vez de perderem tempo com o seu estado emocional, como fazem os jovens adultos.
Em relação aos idosos, o que é muito interessante analisar é que embora experienciem mais eventos negativos, pois têm maior probabilidade de sofrerem de problemas de saúde e terem perdido pessoas mais próximas, são os que tendem a relatar menos acontecimentos de vida stressantes e preocupantes (Chiriboga, 1997).
O que a investigação tem mostrado é que os idosos vão-se desfazendo de estratégias que não resultam tão bem, aprendendo a reconhecer mais facilmente que alguns problemas se resolvem por si próprios e outros que não têm solução. Passam de um coping focado na resolução do problema, como os adultos de meia-idade tipicamente fazem, para um coping mais focado na regulação emocional, tal como os jovens adultos tipicamente fazem.
No entanto, esta regulação emocional é feita de forma mais eficaz, porque há vários eventos que os jovens adultos podem considerar negativos e que os idosos simplesmente não interpretam dessa forma. Então, perante um evento negativo, os idosos podem reinterpretar a situação, de forma a reduzir o impacto do stress, ou entenderem que pode não ter solução, de forma a eliminar este stressor da sua vida.
Um dos motivos que possa estar por trás desta forma lidar com os eventos negativos, é que estão mais conscientes do impacto que o stress lhes faz, e também estão mais conscientes do tempo limitado que a vida lhes oferece, reinterpretando as coisas de outra forma.
Podemos aprender muito na forma como os indivíduos lidam habitualmente com o stress ao longo da vida, principalmente os idosos.
Se tivermos em conta que a nossa experiência de stress está ligada fortemente aos nossos processos cognitivos e que podemos mudar estes através de certas estratégias, então temos a responsabilidade de o fazer, de forma a experienciar um maior bem-estar e reduzir o nosso stress.
Referências bibliográficas
Arnett, J. J. (2001). Conceptions of the transition to adulthood: Perspectives from adolescence through midlife. Journal of Adult Development, 8(2), 133-143.
Chiriboga, D. A. (1997). Crisis, challenge, and stability in the middle years. In M. E. Lachman & J. B. James (Eds.), Studies on successful midlife development: The John D. and Catherine T. MacArthur Foundation series on mental health and development. Multiple paths of midlife development (pp. 293-322). Chicago, IL, US: University of Chicago Press.