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Lição do Filme ‘Inside Out’: A Felicidade não é só Alegria

Conheces o filme de animação Inside Out (‘Divertida Mente’, em Português), feito pela Pixar? Se não conheces, vê assim que puderes!

Este filme foi um êxito de audiências, mas mais do que isso, serviu para mostrar ao público como é que as nossas emoções nos afetam e que todas as emoções são importantes.

A maior parte do filme passa-se dentro da cabeça de uma menina de 11 anos de idade, chamada Riley, onde vemos cinco emoções representadas por personagens de animação. As emoções que aparecem no filme são: Alegria, Tristeza, Raiva, Medo e Nojo.

No início do filme, vemos que a emoção de Alegria, é aquela que comanda a mente da Riley e o seu objetivo é tentar que ela esteja sempre feliz. No entanto, apercebemo-nos que não só é impossível estarmos sempre felizes, como também não é saudável.

A emoção da Tristeza é representada por uma personagem que está sempre em baixo, fala devagar e parece que só existe para atrapalhar. Mas o que vemos durante o filme, principalmente perto do fim, é que todas as emoções têm um propósito, incluindo a Tristeza. Inclusive, vemos que quando a Alegria deixa a Tristeza operar, em conjunto, a mente de Riley, esta parece alcançar uma forma de felicidade mais profunda.

Na sociedade atual, é passada a imagem que devemos estar sempre felizes, sempre alegres.

Existem muitas pessoas em diversas áreas terapêuticas, que passam a mensagem que temos que estar alegres, custe o que custar, e que mesmo que não estejamos alegres, devemos fingir que estamos. Essa forma de estar não podia estar mais errada e o filme Inside Out passa essa mesma mensagem.

Este filme foi acompanhado e aconselhado de perto pelo psicólogo Dacher Keltner, especialista no campo das emoções, de forma a dar suporte científico e fiabilidade ao filme. Então esta não é só uma animação, mas uma lição de vida. E não é só este psicólogo que nos diz que devemos sentir todas as emoções e que a felicidade não se atinge apenas sentindo alegria.

No Journal of Experimental Psychology, investigadores de quatro países e seis instituições, incluindo a Universidade de Yale e a Harvard Business School, descobriram que experienciarmos um leque diverso de emoções pode ser bom para a nossa saúde física e mental.

Para este estudo, os investigadores analisaram a variedade e abundância de emoções positivas e negativas que os seus participantes reportavam.

Esta análise de variedade e abundância de emoções, tem o nome de “emodiversidade”. O primeiro estudo, analisou 35.000 oradores Franceses e descobriu que a emodiversidade está ligada a uma menor depressão. Aliás, as pessoas com elevada emodiversidade tinham menos probabilidades de estarem depressivas do que as pessoas apenas com emoções positivas elevadas.

O segundo estudo ligou a emodiversidade a uma melhor saúde. Com base numa amostra de cerca de 1.300 Belgas, os com maior emodiversidade tomavam menos medicação, gastavam menos dinheiro com a sua saúde e faziam menos visitas aos centros de saúde e hospitais. Eles também tinham uma melhor dieta, faziam mais exercício físico e tinham hábitos mais saudáveis.

As emoções informam-nos a cada instante sobre aquilo que estamos a viver.

Sem emoção não se poderia dizer: “Estou feliz, sinto-me satisfeito, sinto-me triste, estou com ódio, estou aborrecido, estou apaixonado.” Sem emoções seríamos apenas robôs avançando mecanicamente na vida com o olhar vazio e o rosto desprovido de qualquer expressão.

As emoções são múltiplas e variadas e não existem boas ou más emoções.

Existe apenas emoções que são agradáveis, desagradáveis ou neutras.

– As emoções agradáveis assinalam a satisfação das nossas necessidades. São emoções desejáveis que procuramos reencontrar, reproduzir e renovar.

– As emoções desagradáveis fazem-nos sofrer à altura da nossa insatisfação. Geralmente evitamo-las ou recusamo-las.

– As emoções neutras passam despercebidas porque não levantam nenhum problema em particular.

As emoções são embalagens que contêm mensagens que é do nosso interesse ler se queremos continuar a ser felizes ou para evitar que os nossos aborrecimentos piorem. Tal como a febre me diz que alguma coisa não está bem no meu organismo, a fúria indica que um obstáculo que opõe à minha satisfação, a felicidade indica que este é o caminho a seguir e a tristeza permite-me identificar o que me falta. Quer se trate da emoção ou de sensação física, quanto mais depressa agirmos, mais o remédio será simples e ligeiro.

Então, não tenhas medo de sentires emoções negativas como a raiva e a tristeza, o facto de as sentires é saudável. Suprimir essas emoções e mascará-las com alegria é que pode causar danos à tua saúde física e mental.

Claro que temos de ter em atenção à frequência que sentimos essas emoções. Se por um lado é saudável sentirmos emoções negativas, também se torna prejudicial se essas forem as nossas emoções dominantes e se perdurarem. Há situações que duram dias, semanas, meses ou anos e das quais nem sempre se tem bem consciência. É por exemplo uma situação familiar que não se consegue resolver, relações profissionais desprezíveis ou humilhantes, situações financeiras insolúveis. Há também as angústias, as fobias ou as depressões, que independentemente do assunto, mantêm o corpo e o espírito em estado de alerta permanente. É a isso que se chama de emoções de longa duração (ELD). A tensão provocada por uma ELD leva o corpo a estar sempre pronto para o ataque. O organismo está constantemente em estado de guerra.

Por causa da presença contínua dessa emoção, o corpo é de certa forma obrigado a fabricar continuamente adrenalina, cortisona e endorfinas. É uma resposta mecânica. O corpo não pode fazer de outra maneira e continuará a fazê-lo enquanto o perigo estiver presente. Esta mobilização ininterrupta dos recursos é um círculo vicioso esgotante que não dá tréguas ao organismo para descansar e para recuperar forças.

Na ausência da fase final de descanso e de recuperação, o ciclo natural da emoção (carga, tensão, descarga, recuperação) deforma-se e perverte-se, para se tornar o ciclo abortado das emoções de longa duração, que se repete infinitamente, até se esgotar por completo.

A mensagem final então é: é mais saudável experienciar uma panóplia de emoções diversificadas do que tentarmos estar apenas no espectro positivo. No entanto, estarmos no espectro negativo com uma duração exagerada, irá se tornar prejudicial.

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