Entrámos em 2020, início de uma nova década.
Como temos vindo a fazer desde 2017, vamos continuar com os nossos desafios mensais para desenvolver a nossa Inteligência Emocional.
Uma das formas de aprendizagem com mais sucesso é a considerada prática distribuída (em oposição à prática massiva). Ou seja, em vez de tentarmos aprender tudo num dia (prática massiva), distribuímos ao longo do tempo. Com a Inteligência Emocional, também é importante termos uma prática distribuída e continuada, pelo que se treinarmos uma competência socioemocional mensalmente, aplicando o conhecimento diariamente, vamos conseguir aprender e incorporar melhor estes conceitos.
Como estamos no primeiro mês do ano, vamos também começar pela competência base da Inteligência Emocional. Estamos a falar da Autoconsciência.
A Autoconsciência envolve monitorizar os nossos pensamentos, emoções e crenças. É a capacidade de estarmos atentos a diferentes aspetos do “self” e é um estado psicológico em que o próprio se torna o foco da sua atenção.
Habitualmente os psicólogos separam a Autoconsciência em dois tipos diferentes: Autoconsciência Pública e Autoconsciência Privada.
A Autoconsciência Pública dá-se quando estamos focados na forma como parecemos aos olhos das outras pessoas. É por causa deste tipo de autoconsciência, que temos tendência a aderir e a respeitar as normas sociais, porque quando estamos conscientes que estamos a ser observados e avaliados, tentamos comportarmo-nos de formas mais socialmente desejáveis. Por isso temos certos comportamentos em privado, quando ninguém nos está a observar, que dificilmente teríamos em público. Se por um lado, esta autoconsciência nos traz algumas vantagens, nomeadamente a inclusão no meio social, também nos pode levar a estados emocionais de ansiedade, preocupação e stress, pela forma como pensamos que estamos a ser avaliados e percecionados pelas outras pessoas.
Por outro lado, a Autoconsciência Privada acontece quando estamos conscientes dos nossos aspetos interiores. Ou seja, quando ficamos mais introspetivos e analisamos o nosso “self” e as nossas emoções. As vantagens de uma maior Autoconsciência Privada, é que estamos mais ligados aos nossos valores, tomando decisões que vão ao encontro dos mesmos e analisamos mais os nossos estados emocionais. Por outro lado, podemos ficar hipersensíveis por estarmos demasiado focados em nós, aumentando os níveis de ansiedade.
Então, devemos desenvolver a nossa Autoconsciência, mas também é importante estar atento ao meio que nos rodeia.
E como é que podemos desenvolver a nossa Autoconsciência? Existem inúmeras formas, mas para este desafio, queremos dar especial incidência às reações emocionais negativas que ocorrem quando vemos certos comportamentos das outras pessoas. Porque é que vemos por vezes os nossos concorrentes como pessoas gananciosas? Porque é que algumas pessoas têm suspeitas irracionais sobre a infidelidade dos seus parceiros? Porque é que há pessoas que formam grandes estereótipos e agem de forma tão agressiva contra certos grupos minoritários?
Claro que existem várias perspetivas e motivos, mas neste desafio vamos falar sobre o conceito da “Projeção” que originou de Sigmund Freud. Segundo esta teoria, as pessoas são propensas a reagir de forma mais intensa em relação aos outros, sobre traços que procuram negar em si próprias. Ou seja, as pessoas são motivadas a evitar verem certas falhas em si e de forma a ultrapassar este sentimento negativo e esta dissonância, projetam essas falhas nos outros.
Existem alguns psicólogos que não concordam com o motivo da Projeção apresentado por Freud, apresentando outros modelos, mas continuam na mesma a verificar este efeito. Por exemplo, Roy Baumeister, da Case Western Reserve University fez um estudo em 1997 onde testou com sucesso a sua hipótese, que as pessoas tentam ativamente suprimir pensamentos sobre a possibilidade de terem determinados traços de personalidade, sendo que ao fazê-lo, esses traços indesejáveis ficam cronicamente acessíveis. Como resultado, os conceitos associados a esses traços vão ser utilizados para interpretar o comportamento dos outros.
Então, segundo esta teoria, um dos motivos de termos reações emocionais negativas mais acentuadas em relação a terceiros, deve-se a algum traço nosso que não gostamos (e geralmente não estamos conscientes).
Para aumentares a tua autoconsciência durante este mês, cada vez que alguém fizer ou disser algo que te pareça particularmente irritante, questiona-te: “Pode isto ser um reflexo de alguma coisa que não gosto em mim? Faço alguma versão disto? Porque é que acho que reagi assim?”.
Ao colocares estas questões, em vez de utilizares o pressuposto automático que a pessoa te fez reagir de determinada forma, irás ganhar a capacidade de refletir sobre o assunto e aumentares a tua autoconsciência. E com maior autoconsciência, vem também uma maior autorregulação.
Bons treinos!