O nosso cérebro é uma máquina maravilhosa.
Mas como qualquer máquina, temos de entendê-la para saber manobrá-la da melhor forma.
Seguem 7 princípios fundamentais sobre o funcionamento do nosso cérebro.
1. É tudo sobre sobrevivência
Para o nosso cérebro, o objetivo é a sobrevivência e ele é muito bom nisso.
Para sobreviver, o cérebro precisa de duas coisas: evitar ameaças e procurar recompensas.
As ameaças tanto pode ser o tigre dentes de sabre como uma crítica recebida do nosso chefe e as recompensas pode ser abrigo, comida e água, como pode ser um elogio.
No entanto, a ameaça é muito mais importante, porque se um tigre nos apanha, é o nosso fim.
2. O impacto da ameaça e recompensa no nosso cérebro
As respostas de ameaça e recompensa têm um impacto em nós fisicamente e mentalmente. Comparado com a recompensa, a resposta de ameaça:
- É mais rápida
- É mais forte
- Dura mais
- Aumenta o ritmo cardíaco
- Aumenta o cortisol
- Reduz a dopamina
A resposta de recompensa sabe bem, mas não dura tanto. De uma perspetiva de sobrevivência, não precisa.
Pensa numa altura que recebeste um e-mail a criticar o teu trabalho.
Por outro lado, pensa num e-mail em que recebeste um elogio ao teu trabalho. Acredito que o e-mail da crítica tenha tido um peso maior.
Da mesma forma, se encontrarmos 50€ no chão sentimo-nos sortudos. Mas se perdermos 50€, a intensidade dessa dor vai ser maior e mais duradoura.
3. O nosso cérebro é uma máquina de fazer previsões
Os nossos cérebros são máquinas que estão sempre a tentar prever o que vai acontecer.
Estão constantemente, inconscientemente, tentar adivinhar o que nos vai acontecer.
É um sistema, de novo, desenhado para nos proteger.
Na savana, era útil conseguirmos prever se um arbusto mexesse se era algum predador. A previsão ajuda-nos a tomar decisões mais rápido.
Este desejo do cérebro em prever as coisas, significa que o cérebro gosta de informação e de certeza – se o nosso cérebro tiver informação, são melhores a conseguir prever.
Todas as mudanças envolvem incerteza, que impede os nossos cérebros de fazer aquilo que gostam de fazer – previsões.
O nosso cérebro não gosta de ambiguidade, gosta de previsão e quer prever e encontrar significado.
De facto, estudos sugerem que nós podemos viver mais confortavelmente com a certeza sobre um resultado negativo do que com incerteza.
A capacidade de prever não é a única razão por que os nossos cérebros gostam de certezas, Termos certeza, remove o desconforto psicológico.
Quando estamos numa situação familiar e confortável no trabalho, o nosso cérebro pode trabalhar em autopiloto, utilizando caminhos neurais que utiliza várias vezes, com fortes ligações sinápticas.
Mas quando sentimos incerteza, várias áreas do cérebro ficam ativas, em particular, aquelas áreas que fazem parte da nossa rede do medo.
A incerteza regista-se como um erro ou uma falha, algo que deve ser lidado antes de podermos sentirmo-nos confortáveis outra vez.
4. O nosso cérebro quer conservar energia
O cérebro pesa apenas 1.360 gramas e é o objeto mais complexo do sistema solar. Embora corresponda apenas a 2% do peso do corpo, consome 20% da nossa energia.
Nos recém-nascidos, consome a espantosa percentagem de 65% da energia. Dentro do nosso crânio existem cerca de 100 mil milhões de neurónios, com um número exponencial de conexões e vias neuronais.
Os nossos cérebros querem conservar energia e, portanto, tendem a ser preguiçosos. O facto de sermos seres de hábitos e de rotinas tem também esse propósito de poupança energética.
Quando acordamos temos o mesmo procedimento. Não pensamos se primeiro vestimo-nos ou comemos, se primeiro vestimos as cuecas ou a blusa, se lavamos os dentes antes ou depois do pequeno-almoço. Tomar todas essas decisões conscientemente seria um gasto energético enorme, não conseguindo chegar ao fim do dia com capacidade de tomar decisões.
5. O cérebro utiliza atalhos
Este desejo de poupar energia, significa que muitas vezes o cérebro utiliza o caminho da menor resistência: gosta de atalhos onde não tem de trabalhar tanto.
Isto pode ser útil mas também problemático.
Útil, porque poupa energia e tempo e remove a necessidade de pensar em todas as decisões que somos confrontados, mas problemático porque faz-nos tomar decisões inconscientemente e que por vezes não são as melhores para nós.
6. A vida mudou. O cérebro não.
A vida tem mudado rapidamente nas últimas décadas, mas o nosso cérebro não.
Isso é um grande desafio para o nosso dia-a-dia. Nós vivemos no século 21, mas o nosso cérebro está desenhado para viver na savana.
Reagimos a uma crítica, como reagimos a um ataque físico. O cérebro não consegue separar essas duas situações.
7. O nosso cérebro é “plástico”
É uma das descobertas mais úteis e excitantes da neurociência. O nosso cérebro tem a capacidade de continuar a aprender e a restruturar-se, mesmo na fase adulta: a chamada neuroplasticidade.
A neurociência mostrou que o cérebro pode mudar em resposta a experiências, pensamentos e atividade mental.
Então, a atividade mental não é só um produto do cérebro, mas também o molda.
O cérebro muda a sua estrutura com cada atividade diferente que desempenha, melhorando os seus circuitos, para que o cérebro fique mais bem-adaptado à tarefa e fazendo com que fique mais fácil desempenharmos essa tarefa.
Este fortalecimento de ligações sinápticas é conhecido por “Lei de Hebb” (1949): células que disparam juntas, ligam-se juntas.
A neuroplasticidade significa que a comunicação constante entre dois neurónios leva a que os mesmos criem uma ligação mais forte de forma a que possam comunicar mais facilmente em conjunto.
Se conseguem comunicar mais facilmente, podem fazê-lo mais rápido e com menos esforço.
Tal como as conexões sinápticas aumentam e fortalecem através de repetição, também as ligações enfraquecem e desaparecem se não as utilizarmos.
O cérebro utiliza uma abordagem: usa ou joga fora.
Estes 7 grandes princípios do cérebro têm vindo a ser estudados pela neurociência e devemos ter em conta no nosso dia-a-dia.
O facto de nos sentarmos sempre no mesmo sítio, a forma como reagimos exageradamente a situações, porque é que sentimos mais as perdas do que os ganhos, o receio da incerteza.
Tudo isto tem como base a nossa arquitetura cerebral.
Apenas entendendo isso é que podemos desenhar estratégias para utilizar esta programação da melhor forma e formas de contornar alguns pontos que não nos são úteis.