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O Impacto da Incerteza no Stress

“Não existe nada certo, excepto a incerteza”

“A única certeza é a incerteza”

Estas são frases e ditados comuns no dia-a-dia e que revelam a verdade sobre a nossa natureza. Na nossa vida, existem inúmeras variáveis a ocorrer ao mesmo tempo e que apontam para a incerteza. Nada é certo na vida. Posso pensar que vou ser promovido para o ano, que vou de férias daqui a um mês, que o meu relacionamento vai durar, mas a qualquer momento tudo pode mudar.

No entanto, o nosso cérebro reage muito mal com a incerteza. O nosso cérebro é um grande simulador que está sempre a tentar prever o que vai acontecer a seguir. E, se não conseguir prever com alguma exatidão, começa a gerar stress interno.

Regra geral, não notamos este efeito da incerteza nas pequenas coisas do dia-a-dia, pois o nosso cérebro pensa que sabe o que vai acontecer a seguir. Tem um sentimento de certeza, no meio da incerteza da vida. Pensa que o comboio vai chegar daqui a 10m, pensa que hoje vou jantar com aquele meu amigo, pensa que hoje no local de trabalho as coisas vão estar na mesma. Este é um dos grandes motivos porque somos seres de hábitos e de rotinas, pois preenche a nossa vida com maiores certezas, fazendo com que experienciemos menos stress.

O problema surge quando a mudança ocorre ou quando o risco de incerteza começa a aumentar.

Vou fazer-te imaginar um cenário, em que quero que penses qual das opções é que te irá gerar mais stress:

  1. Vou-te dar um choque elétrico daqui a 10m
  2. Não te vou dar um choque elétrico
  3. Posso dar-te, ou não, um choque elétrico e não sei quando te irei dar

Qual das três situações gera-te maior stress e desconforto?

Embora a 1ª opção tenha 100% de hipóteses de acontecer e que ninguém quer, ficamos mais desconfortáveis com a 3ª opção. Não parece muito racional, pois temos menos hipóteses de receber um choque na 3ª opção, mas mesmo assim é aquela que gostamos menos.

Foi feito um estudo por Archy de Berker da UCL Institute of Neurology, em que os voluntários jogavam um jogo de computador em que tinham que virar rochas digitais, onde poderiam encontrar cobras escondidas. Caso uma cobra aparecesse, eles levavam um choque ligeiro.

O jogo estava desenhado para irem melhorando a sua previsão sobre onde estavam as cobras, mas mantendo algum grau de incerteza. Enquanto jogavam o jogo, os participantes estavam a ser monitorizados pela sua dilatação das pupilas e pela sua transpiração, que são indicadores de reação ao stress.

O que descobriram foi que se alguém tivesse a certeza que iriam encontrar uma cobra, o seu stress era menor do que aqueles que estavam incertos se iam encontrar a cobra ou não. Ou seja, mesmo que os que tivessem pouca certeza não levassem o choque, os seus níveis de stress eram maiores do que aqueles que tinham a certeza e que levavam o choque.

Um episódio que retrata o fenómeno da incerteza muito bem, pode ser visto na II Guerra Mundial. Durante a II Guerra, o centro de Londres era bombardeado todas as noites pela Alemanha, sendo que nos subúrbios, os bombardeamentos eram mais esporádicos e imprevisíveis. Interessantemente, foi nos subúrbios que os médicos detetaram uma maior evidência de pacientes com úlceras no estomago, que é um dos maiores fatores causados pelo stress. Não era a magnitude dos bombardeamentos, mas a sua incerteza, que causava maior impacto no cérebro e no corpo.

O nosso cérebro gosta de alguma certeza, gostava de prever o que vai acontecer a seguir. Então, temos que aplicar este conhecimento no nosso quotidiano. A forma como comunicamos com os outros, como tratamos os outros, tem que ter por base um sentido de alguma certeza. Recordo uma situação que aconteceu comigo, onde o meu Diretor chegou ao escritório de manhã e disse-me “Temos que falar. Agora não tenho tempo, mas no fim do dia precisamos falar”. Durante todo o dia vieram-me pensamentos de possíveis motivos para ele querer falar comigo, os meus níveis de stress estiveram mais altos e a minha produtividade caiu a pique nesse dia. No fim do dia, o tópico da conversa cingia-se a uma ideia que ele tinha tido e que queria uma opinião. Uma comunicação simples, mas cheia de incerteza, impactou-me ao longo do dia.

Em certos momentos de maior mudança e incerteza, como na chegada de um novo diretor, quando a empresa passa por grandes mudanças ou é adquirida, quando não se sabe se vão existir despedimentos ou não, ou quando um colaborador assume um novo papel, verifica-se muitas vezes que não é considerado o fator da incerteza e não é comunicado da melhor forma a nova visão e os próximos passos. Prefere-se o silêncio ou pode considerar-se que não é relevante iniciar uma comunicação destas. Mas é um erro, que vai aumentar os níveis de stress dos colaboradores, baixar o bem-estar psicológico e motivação e cair a produtividade.

O mundo pode estar cheio de incertezas, mas nós podemos influenciar o sentimento de certeza das pessoas à nossa volta. Para o cérebro, o que conta mais é o sentimento de certeza do que a certeza real, porque esta, tal como os ditados dizem, não existe.

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