Imagina que é pedido para te avaliares nas seguintes situações, numa escala de 1 (abaixo da média) a 5 (acima da média):
- “Considero que sou um amigo”
- “Considero que sou um trabalhador”
- “Considero que a minha inteligência é”
- “Considero que as minhas ideias são”
- “Considero que a minha condução é”
- “Considero que me preocupo com os outros”
Se fores como a maioria das pessoas, a tua avaliação deverá ter sido “acima da média” (valores entre 4 e 5) na maioria das situações. Mas, como todos nós sabemos, estatisticamente é impossível estarmos todos acima da média.
A investigação em psicologia social descobriu que quando se pede para as pessoas avaliarem as suas capacidades, a maioria avalia-se “acima da média” (Alicke et al., 1995). Este efeito chama-se “Efeito acima da média”, tendo a sigla BTA em inglês (better than average).
Podemos ver este efeito em várias situações e em vários grupos. Por exemplo, num estudo que contou com um milhão de estudantes do ensino secundário, foi pedido que se classificassem, comparando-se aos seus colegas(College Board, 1976–1977) Os resultados foram os seguintes:
- 60% considerou-se acima da média na capacidade atlética, sendo que apenas 6% se classificou abaixo da média;
- 70% considerou-se acima da média na capacidade de lierança, com apenas 2% a se classificar abaixo da média.
Se pensarmos que este efeito apenas é visível porque estamos a falar de estudantes do ensino secundário, sendo que é um grupo que tipicamente sente que pode fazer tudo, que consegue mudar o mundo e tem uma confiança em si acima da média, o estudo feito por Sedikides, Meek, Alicke e Taylor (2014), mostra que o efeito é robusto. Estes investigadores avaliaram o efeito acima da média, comparando as crenças morais e éticas de um grupo de prisioneiros, em relação com o “prisioneiro médio” e com o “membro médio da comunidade”. Os resultados foram:
- Os presos avaliaram os seus traços morais, de amabilidade, de honestidade, de compaixão e de generosidade, acima do “prisioneiro médio”, bem como do “membro médio da comunidade”. Apenas o traço que dizia “cumprimento da lei” apresentou uma avaliação abaixo da média.
Ao início, os investigadores consideravam que este efeito devia-se ao facto das pessoas compararem-se de forma mais favorável que as outras, de forma a preencherem as suas necessidade de auto-enaltecimento. Ou seja, para se sentirem melhores e protegerem a sua autoestima, a maioria das pessoas avalia-se acima da média. Entretanto, outras hipóteses têm vindo a ser lançadas e estudadas.
Como em qualquer situação, existem sempre vantagens e desvantagens. E o efeito acima da média não foge à regra.
Vamos começar pelas vantagens. Uma delas já foi referida acima, que é a capacidade de proteger a nossa autoestima. Com uma baixa autoestima, sentimo-nos pior, queremos estar mais isolados e podemos ter comportamentos prejudiciais connosco ou com terceiros. Por isso, é bom protegermos a nossa autoestima e este efeito ajuda-nos. Outra das vantagens é a nossa capacidade de arriscar em cenários de maior incerteza ou quando surgem mais obstáculos. Imagina que estás à procura de emprego e classificavas-te abaixo da média nas tuas inúmeras capacidades. O mais provável era nem concorreres ao emprego, tirando qualquer hipótese de conseguir aquela vaga. Ou mesmo que concorresses e fosses chamado, tinhas muita dificuldade em ter um bom desempenho na entrevista de emprego, pois consideravas-te alguém pior que os outros. E se tiveres uma imagem negativa das tuas capacidades, como é que consegues convencer os outros que as tuas capacidades são uma mais valia para a empresa?
No entanto, também existem as suas desvantagens. Se nos considerarmos sempre acima da média, podemos ficar com uma imagem demasiado inflacionada de nós e perdermos o nosso foco dos pontos mais negativos que temos e podemos não nos esforçar tanto para tentar melhorar. Porque se somos assim tão bons, não existe muita necessidade de melhoria. Imagina que és um estudante universitário e sentes que és muito acima da média em relação aos teus colegas, em termos de desempenho académico. Facilmente podes perder o foco em ter que sacrificar algumas horas a mais de estudo para tentar obteres uma melhor nota, sendo prejudicado no resultado final. E se ao receberes um mau resultado, não tiveres a capacidade de refletires sobre as causas reais (falta de estudo), podes facilmente fazer atribuições externas, dizendo que a má nota deveu-se ao facto de estares cansado ou teres tido azar. E se fizeres essas atribuições, podes repetir o mesmo comportamento, voltando a ter uma má nota.
Em resumo, consideramos que somos mais virtuosos, honrados, competentes, capazes, talentosos, compreensivos, simpáticos e até mais humanos que os outros (Haslam, Bain, Douge, Lee, &
Bastian, 2005). Este é o efeito acima da média. O que interessa é termos consciência deste efeito, aproveitar as vantagens que ele traz e estarmos atentos para que este efeito não nos traga resultados negativos no nosso dia-a-dia.