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Mudar Emoções Negativas Com o Pensamento

Shakespeare, na sua peça mundialmente conhecida “Hamlet” disse: “Nada em si é bom ou mau, tudo depende daquilo que pensamos”.

A peça foi apresentada há mais de 400 anos e já mostrava aquilo que a ciência viria a descobrir muitos séculos depois.

O ser humano tem uma capacidade de adaptação invejável, em comparação com a maioria das outras espécies. Somos adaptáveis não só ao mundo exterior, como ao mundo interior.

As emoções comandam a nossa vida e muitos de nós somos avassalados por emoções negativas mais vezes do que gostaríamos. Mas existe uma excelente notícia: podemos mudar isso através do nosso pensamento.

Sim, claro que existem situações que certos distúrbios ou lesões em áreas cerebrais podem impedir que consigamos gerir as nossas emoções apenas através do pensamento. Mas para muitos casos pontuais que experienciamos no dia-a-dia, é possível.

Kevin Ochsner, da Universidade da Columbia fez uma experiência em que os voluntários observavam várias imagens, umas com carga negativa e outras com neutra. 1 Alguns voluntários iriam ver a fotografia normalmente, sentido a emoção negativa, enquanto a outros era pedido que reenquadrassem a situação, dando outra perspetiva ao que estavam a ver.

Por exemplo, uma das imagens continha uma foto de uma mulher a chorar numa igreja, que os participantes pensavam que era um funeral. Quando isto acontecia, a amígdala direita, um ponto chave para as emoções perturbadoras, fazia uma avaliação automática e rápida da situação – um funeral – e ativava o circuito para a tristeza. Esta resposta acontece tão rapidamente e espontaneamente, que enquanto a amígdala ativa estas reações e ativa outras áreas do cérebro, os centros corticais para pensar ainda não acabaram de analisar a situação. Depois e em conjunto com a avaliação da amígdala, os sistemas ligando os centros emocionais e cognitivos verificam e refinam essa reação, dando um acréscimo emocional ao que estamos a ver. E é então que formamos a nossa primeira impressão: “Que triste, ela está a chorar num funeral.”

Entretanto, o investigador poderia dizer a alguns participantes: “Não é um funeral, é um casamento”. Esta reapreciação do evento, substituía o pensamento inicial e gerava uma dose mais feliz de sentimentos, iniciando uma sequência de mecanismos que acalmava a amígdala e os circuitos conexos.

 

No gráfico acima, a barra preta “Attend” mostra os participantes que olharam para as imagens negativas sem utilizar o reenquadramento. A barra preta “Reapp” mostra os participantes que fizeram o reenquadramento. A barra a cinzento mostra a reação a imagens neutras.

No eixo dos Y, está a força do evento negativo que os participantes experienciaram.

Como podemos verificar, quando os voluntários utilizaram o reenquadramento (Reapp), existiu uma diminuição considerável do sentimento negativo que estavam a experienciar.

 

Este estudo mostra-nos que podemos mudar emoções negativas com o pensamento, utilizando reenquadramentos, olhando para as coisas de uma forma diferente. As coisas são como são. Nós é que as interpretamos de variadas formas, gerando vários estados emocionais, sendo que muitos não são positivos. Mas podemos utilizar o pensamento para reenquadrar a situação, ver através de outro prisma e, com isso, mudar o estado emocional.

 

  1. Oschner, K.N., Bunge, S.A., Gross, J.J. & Gabrieli J.D. (2002). Rethinking Feelings: An fMRI Study of the Cognitive Regulation of Emotion. J Cogn Neurosci

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