Heurísticas
Tomamos decisões e fazemos julgamentos diariamente, desde o que devemos comprar, que caminho devemos utilizar, até como devemos responder a certas pessoas.
Se a cada decisão tivéssemos de fazer uma deliberação intensa, então não conseguiríamos fazer nada. Era um gasto de recursos cognitivos imenso e tempo perdido.
Por isso, o nosso cérebro utiliza estratégias de pensamento eficientes, conhecidas como heurísticas.
As heurísticas são atalhos mentais que nos ajudam a tomar decisões e a fazer julgamentos rapidamente, sem ter de perder muito tempo a analisar cada peça de informação. Então, quando tomamos decisões, na maioria das vezes utilizamos estes atalhos cognitivos para obter uma solução rápida (Dale, 2015).
Três das heurísticas mais importantes e estudadas são a da disponibilidade, representatividade e ancoragem (Shah & Oppenheimer, 2008).
Heurística da disponibilidade
É a tendência de julgar a frequência ou probabilidade de um evento pela facilidade que a informação vem à mente. Segue o pressuposto que se algo pode ser recordado facilmente, então deve ser importante ou mais importante que as outras soluções que não foram rapidamente recordadas.
Então, as pessoas têm tendência a ser influenciadas pela informação que é mais recente, enviesando a sua opinião com base nas últimas notícias. Quanto mais fácil for recordar as consequências de algo, maior essas consequências são geralmente percecionadas.
Este é um erro porque a nossa recordação de factos e eventos é distorcido pela vividez da informação, número de repetições que somos expostos e a sua familiaridade.
Por exemplo, numa pesquisa conduzida em 2010 nos Estados Unidos da América, três dos maiores medos de morrer eram: ataques terroristas, ataques de tubarões e serem assassinados.
No entanto, a probabilidade de morrer de um ataque terrorista é cerca de 1 em 9,3 milhões (similar a morrer numa avalanche), a probabilidade de morrer atacado por um tubarão é 1 em 11,5 milhões e quanto ao medo de ser assassinado, no ano 2000 cerca de 520.000 pessoas foram assassinadas, comparadas com 6 milhões que morreram de cancro. Mas como são notícias mais divulgadas: ataques terroristas, ataques de tubarões e assassinatos, a perceção de poder morrer de uma dessas formas é muito maior que a real.
Heurística da representatividade
É um atalho cognitivo que nos ajuda a tomar uma decisão comparando a informação com os nossos estereótipos ou protótipos mentais. É a tendência de avaliar a probabilidade ou frequência de um evento, com base na semelhança com o caso típico.
Um uso excessivo desta heurística, leva a que ignoremos outros fatores.
Por exemplo, podemos assumir que uma pessoa tímida tem mais probabilidade de ter uma profissão como bibliotecário do que como comercial, embora estatisticamente existam muito menos bibliotecários do que comerciais.
Heurística da ancoragem
É a tendência de julgar a frequência ou probabilidade de um evento utilizando um ponto de partida chamado de âncora e a partir desse ponto, fazer ajustamentos para cima ou para baixo. Quando as pessoas fazem estimativas quantitativas, estas estão fortemente influenciadas pelo valor prévio dos itens.
Por exemplo, quando um vendedor de automóveis começa a negociar, começa com um preço superior, de forma a que seja criada uma âncora a esse valor e o consumidor estime que o preço mais baixo represente uma boa proposta.
Então, diferentes pontos de partida levam a diferentes estimativas, que são enviesadas em direção ao valor ou número inicial.
Cuidados a ter
Embora as heurísticas tenham um valor adaptativo e na grande maioria das vezes são úteis as utilizarmos, por vezes podem introduzir erros e julgamentos enviesados.
Depender das heurísticas pode dificultar vermos outras alternativas ou chegar a novas conclusões. Esta é uma armadilha mental: depender exclusivamente das heurísticas e assumir que são verdades incontestáveis.
Estas heurísticas (e outras) estão presentes em todos nós e são úteis: até deixarem de ser.