Nós somos seres sociais, foi assim que evoluímos desde nos nossos antepassados caçadores-recolectores até os dias de hoje. Não somos uma ilha, pois vivemos rodeados de pessoas, amigos, familiares e parceiros amorosos e devemos fomentar essas relações, não só pelo óbvio facto de que precisamos de relações intrapessoais para comunicar e conseguir alcançar aquilo que queremos, mas também porque a qualidade dos nossos relacionamentos está diretamente relacionada à nossa felicidade e também à nossa saúde. Ao não trabalharmos os nossos relacionamentos, caminhamos em direção ao isolamento social e isso tem consequências desastrosas. Estudos realizados durante mais de duas décadas, envolvendo mais de 37.000 participantes mostraram que o isolamento social, isto é, aquele sentimento de que não temos ninguém com que possamos desabafar e partilhar os nossos sentimentos, duplicava a hipótese de doença ou morte.1
Outro estudo científico, feito em 1987, indicou que o isolamento é tão significante para a taxa de mortalidade, como fumar, uma elevada pressão arterial, elevado colesterol, obesidade ou a falta de exercício físico. O mais impressionante é que este estudo indica que fumar aumenta o risco de mortalidade num fator de 1,6, enquanto o isolamento social aumenta o risco num fator de 2,0, tornando-o no maior risco para a nossa saúde. 2 No entanto, atualmente damos muita importância ao tabagismo, obesidade, pressão arterial e colesterol e tão pouca importância aos nossos relacionamentos. Curiosamente, quando vamos ao médico, ele não nos pergunta como estão os nossos relacionamentos e não nos dá indicações de como trabalhá-los e fomentá-los, de como fomentá-los, embora esta prática também tenha um enorme impacto na nossa saúde.Uma parte vital da inteligência emocional são os nossos relacionamentos. Se tivermos laços mais fortes, vamos-nos sentir mais felizes, a nossa saúde vai melhorar e conseguiremos atingir o sucesso pessoal e profissional mais facilmente.
Um estudo feito a 100 pacientes de transplante de medula óssea mensurou o poder de ter laços pessoais fortes. Entre os pacientes que sentiam que tinham um forte suporte emocional do seu parceiro, família ou amigos, 54% sobreviveu aos transplantes após dois anos, em comparação com 20% daqueles que reportaram que sentiam que tinham pouco suporte.3 É impressionante o que fomentarmos bons relacionamentos faz ao nosso bem-estar e própria longevidade. Somos um ser social e não podemos descurar essa parte. Cada vez mais com o uso das tecnologias, tem-se perdido o contacto social mais direto, partilhar experiências, olhar nos olhos, mostrar interesse pelo outro. E ao mesmo tempo, cada vez mais existem pessoas que reportam sentir maior infelicidade, níveis de depressão e ansiedade. Sim, existem vários fatores que influenciam estes dados, mas a qualidade dos relacionamentos pessoais é um dos fatores fortes.
Os nossos relacionamentos impactam todos à nossa volta. Logo, uma outra vantagem de trabalharmos os nossos relacionamentos é o impacto positivo que irá ter nas crianças, isto para aqueles que são pais. Muitas vezes não nos apercebemos, mas o nosso comportamento influencia o dos nossos filhos. Quando são novos, os nossos filhos utilizam a observação para aprenderem comportamentos para depois eles próprios utilizarem no futuro. Se as crianças tiverem pais que se relacionem bem entre eles, que se relacionem bem consigo próprios e que os apoiem emocionalmente, então mais provavelmente vão repetir esse comportamento no futuro. Existem inúmeros estudos que demonstram que, os métodos utilizados pelos pais para educarem os filhos, seja com “mão pesada” ou com entendimento e empatia, com indiferença ou carinho, têm grandes e longas consequências na vida emocional da criança.
Carole Hooven e John Gottman, da Universidade de Washington, fizeram microanálises com base nas interações entre casais e como estes lidam com os filhos e descobriram que aqueles que eram mais competentes emocionalmente no seu casamento também eram mais eficazes em ajudar os seus filhos nos seus altos e baixos emocionais.
A inteligência emocional ajuda-nos a entender como devemos fomentar e potenciar os nossos relacionamentos pessoais. As relações requerem esforço, compromisso e entender o outro lado. Se apenas fizermos o que nos apetece no momento, sem ter em consideração o outro lado, vamos deteriorar a qualidade dos nossos relacionamentos. É importante entender que as relações constroem-se e que a qualidade dessa construção depende de nós.
1. Medical risk of social isolation: James House et al., “Social Relationships and Health,” ScienceQuly 29,1988)
2. House, “Social Relationships and Health”
3. Strain, “Cost Offset.