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#7 Desafio 2019 – Objetividade

Início de Julho, mês de um novo desafio para aumentar a nossa Inteligência Emocional!

Vamos recordar os últimos 6 desafios de 2019:

Este mês vamos treinar uma competência que é a Objetividade.

Todos nós já tivemos à procura de um objeto em casa, como por exemplo as nossas chaves e não as encontrávamos em lado nenhum. Passado algum tempo, apercebemos-nos que sempre estiveram em cima da mesa da sala. E o mais impressionante é que já tínhamos olhado para lá e não vimos nada. Embora pareça que vemos o mundo tal como ele é, o mundo não é mais do que uma representação que o nosso cérebro faz do mesmo. A luz que é refletida nos objetos, entra através da pupila e é dividida em várias componentes como a cor, o movimento e a localização, para depois ser novamente montada e ganharmos a perceção do que está à nossa frente. Sem contar com o facto que o nosso cérebro não tem a capacidade de processar toda a informação visual, pelo que embora pareça que estamos a ver tudo, somos capazes de ver uma mesa sem chaves, quando as mesmas estavam lá.

Se algo supostamente tão objetivo como percecionar o que está à nossa frente, afinal não tem assim tanta objetividade, não é assim tão direto, como é que poderemos pensar que reagimos às situações do dia a dia e processamos a informação que recebemos de forma objetiva? A verdade é que não o fazemos. O nosso cérebro, de forma a otimizar recursos e energia e dar coerência e sentido à informação recebida, utiliza várias estratégias. Uma das estratégias que utiliza, são as heurísticas.

As heurísticas são processos mentais eficientes ou atalhos cognitivos, que nos ajudam a processar informação de forma mais simples, permitindo tomar decisões no nosso dia-a-dia. No entanto, essas decisões não têm em conta o máximo de informação possível, mas apenas a informação essencial. Na década de 70, os investigadores Amos Tversky e Daniel Kahneman identificaram algumas heurísticas, pelo que vou assinalar duas das mais importantes:

  • Heurística da representatividade: esta heurística faz com que efetuemos julgamentos por semelhança. Por exemplo, imaginemos uma rapariga chamada Ana. A Ana tem 25 anos, é profundamente interessada por questões de discriminação social e participou em várias manifestações. A Ana tem mais probabilidade de ser advogada ou contabilista? Vamos-nos inclinar logicamente para a primeira opção. Então, não conhecemos a Ana, mas estamos a fazer uma decisão por semelhança. A descrição dela fez-nos pensar que era advogada, ignorando outra informação que poderia ser relevante.
  • Heurística da disponibilidade: esta heurística faz com que julguemos a probabilidade de um acontecimento, através da facilidade e rapidez com que o recordamos. Por exemplo, qual destas causas de morte é mais comum em Portugal: acidentes de viação ou doenças no aparelho digestivo? A maior parte das pessoas tende a indicar a primeira, quanto na realidade é a segunda. E porquê? Porque os acidentes de viação são muito mais noticiados do que mortes por doença no aparelho digestivo. Como é mais noticiado, essa informação está mais acessível e como está mais acessível, julgamos como verdadeira.

As heurísticas têm o seu valor e permitem-nos tomar decisões rápidas e muitas vezes mais eficientes do que se estivéssemos a considerar mais informação. Mas, por vezes, podem-nos limitar o nosso raciocínio e prejudicar a nossa tomada de decisão.

Por exemplo, no primeiro cenário da heurística da representatividade, é realmente mais provável que a Ana seja advogada. Mas vamos imaginar o nosso dia-a-dia, em que vemos diariamente indivíduos e avaliamos os seus comportamentos, não de forma objetiva, mas com base à pertença de um grupo, clube, partido ou religião. Julgar alguém por semelhança com base em certos traços, pode revelar-se verdadeiro, mas também pode ser prejudicial, levando à discriminação.

Quanto à heurística da disponibilidade, muitas vezes tem um valor preditivo eficaz. Se temos muita informação sobre algo, então provavelmente é verdadeiro. Mas nem sempre é assim, como mostramos no exemplo das causas de morte em Portugal.

Então, se nós utilizamos estas heurísticas para nos guiarmos no mundo e se estas podem ter um valor positivo e adaptativo, mas também podem ser prejudiciais, afinal o que é que devemos fazer?

A resposta está em tentar aumentar a nossa objetividade na forma como avaliamos a informação que recebemos, mas tendo sempre em conta que não vamos conseguir fazer sempre isso, pois não temos acesso a toda a informação, é um tremendo gasto de energia para o nosso cérebro e que por vezes a nossa falta de objetividade também nos ajuda. Mas se apenas utilizarmos atalhos mentais, sem objetividade, para navegarmos no mundo e para tomarmos decisões, vamos obter consequências negativas. Então, devemos trabalhar a nossa objetividade, dentro do possível.

Para o desafio deste mês, quando receberes alguma informação, que tenha como propósito debater um tema, tomar uma decisão ou julgar algo/alguém, faz o seguinte:

  1. Reflete se estás a analisar essa informação de forma “crua” ou se estás apenas a avaliar através de comparações com algo semelhante (representatividade);
  2. Se possível, tenta confirmar a fonte da informação ou procura e pesquisa por informação que seja oposta à que recebeste para comparares (disponibilidade).

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